terça-feira, 25 de agosto de 2009

Frenesi Polissilábico - Nick Hornby

"Qualquer pessoa que esteja fazendo uma oficina literária sabe que o segredo de um bom texto é enxugá-lo, retirar os excessos, peneirar, cortar, podar, aparar, remover tudo quanto é palavra supérflua, resumir, resumir. Em toda resenha sobre um escritor como, por exemplo, o sul-africano Coetzee, encontra-se a palavra 'econômica' ou 'econômico', usada de maneira elogiosa, ... Coetzee, obviamente, é um ótimo romancista, de forma que não considero nenhum pecado ressaltar que ele não é o escritor mais engraçado que existe. Na verdade, quando paramos para analisar, vemos que pouquíssimos romances na tradição Econômica são lá muito animadores. As piadas são praticamente extirpadas, de forma que, em um processo de adequação de registro na prosa, elas são as primeiras a saltarem fora. E, na peneiração, existe um lance que eu simplesmente não entendo. Por que sempre para (pára - ah, esse acordo ortográfico) quando o trabalho em questão foi reduzido a 60 ou 70 mil palavras? Será que esse é o tamanho mínimo para um romance publicável? Tenho certeza de que, com um pouco de esforço, daria para chegar até a 20 ou 30. Na verdade, por que parar em 20 ou 30? Por que escrever qualquer coisa? Por que não rabiscar o enredo e uns dois temas em um envelope e deixar tudo assim? A verdade é que na ficção ou na sua criação não há nada de muito utilitário, e acho que as pessoas ficam loucas para dar a impressão de que se trata de um trabalhão desgraçado, e que dão um duro danado, que é coisa de macho, pois, no fundo no fundo, trata-se de uma coisinha bem 'fresca'. A obsessão pela austeridade é uma tentativa de compensar, de fazer com que a literatura se pareça com um trabalho de verdade, tipo pegar na enxada ou derrubar árvores." págs. 76 e 77

Desculpem o exagero desta citação. Mas adoro está passagem.
É, eu ainda não terminei de ler o Frenesi Polissilábico, mas estou quase no fim. Bem além da página 77. Pra falar a verdade, bem além da 200.
Só vou discordar da parte em que ele diz que não há nada de muito utilitário na ficção. Claro que há. Lazer. E lazer é de uma utilidade enorme.

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