sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Dois irmãos - Milton Hatoum

Modorrento. Quente e úmido como eu imagino que seja Manaus. E lento. Uma preguiça arrastada que só o calor úmido consegue provocar.
Dois irmãos. Gêmeos. O resto da família e uma saga.
Tudo anda. O livro progride. Mas, às vezes, temos a impressão de não sair do lugar. E isto não é ruim. Faz parte da narrativa. Nos coloca na cena. No momento. Literalmente, no clima.
Os gêmeos e todos o problemas que provocam. Tudo gira em torno deles. Sobre a presença de um e a quase total ausência do outro. Omar e Yaqub. Um deles passa quase toda a história ausente. Na maior parte das vezes é apenas uma lembrança. Mas o outro torna essa lembrança viva e presente. Mesmo que isso seja o que menos queira.
Um superprotegido. O queridinho da mamãe. O outro o preferido do pai, que preferia não ter nenhum. Halim e sua eterna vontade de ser somente ele e Zana por toda a vida. Mas os gêmeos estão ali. Também Rania, a outra filha. Por fim, Domingas (a cunhatã que faz o serviço da casa). E seu filho. Todos como uma família.
O Caçula vive aprontando. Vive na farra. Na boa vida. Sempre foi assim. O outro sofre com o afastamento. Passar cinco anos longe de casa não foi fácil. Para nenhum deles. E isso separa os dois para sempre. Uma muralha.
Não pense que vai ser uma leitura fácil. Mas está longe de ser das mais difíceis. Persistência no início e o texto fisga você. Depois fica impossível largá-lo.

Uma grande vantagem: foi lançado também na coleção Companhia de Bolso. Então é possível encontrá-lo por um precinho bem mais camarada.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Memória de minhas putas tristes - Gabriel Garcia Marquez


Um livro sobre a vida. Sobre a vontade de viver.
Eu que pensava que não ia ser um bom livro. E começou realmente um pouco lento, quando eu esperava mais ação. Mas ele anda. E anda bem. Outra grande obra de Gabriel Garcia Marques. Para ser lido em poucos dias (é possível lê-lo em poucas horas), pois é preciso saborear.
Uma celebração da vida e da velhice. Da vontade de viver. Da despreocupação. Uma história do abandono de abandonar-se aos anos.
O personagem tem noventa anos e de presente de aniversário dá-se uma noite com uma virgem. O que acontece? Bom... no livro, só lendo. Na vida real, alguma polêmica e a falta da pergunta sobre o que é certo e o que é errado num mundo que não dá escolhas.
Mas o personagem nos provoca amor e algumas pontinhas de ódio. Nem tanto pelo presente de aniversário, mas por outras pequenas coisas que faz ou deixa de fazer. Mas é aquele ódio de quem tem carinho.
Memória de minhas putas tristes é um livro que vale cada momento. Um livro manso, um pouco preguiçoso – preguiça causada pelo clima do lugar onde se passa a história. Está tudo ali, e aos poucos vais nos penetrando, saltando para fora das páginas e nos cercando. Pena que seja tão curto.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Ubik Philip K. Dick

Agora o texto completo.

Um livro sobre a morte. Ou seria sobre o medo da morte?
Mais uma vez a ficção científica é apenas pano de fundo (como em toda boa ficção científica – ou como em toda história de Philip K. Dick). Os aparatos do futuro apenas são coadjuvantes para um dilema humano. Morrer. Prolongar a vida. Uma meia vida.
E o dilema. Sim ou não? Vale a pena ter uma meia vida?
A trama muito bem construída prende a atenção. Quem está vivo? Quem está morto? E há Ubik, palavra claramente derivada de ubiquo = onipresente. Mais uma pista sobre o assunto do livro.
Suspense, policial, investigativo, filosófico, aventura... um pouco de tudo. E você não quer largar o livro. Mas não é uma história para ser contada aqui. É para ser lida. De página em página, com muito suspense. Revelações, reviravoltas e o que você pensa desde o início, pode não ser verdade.
As pessoas fazem querem prolongar sua estada no mundo. Mesmo que seja em fiapos gelados. Momentos congelados. E sim, há a reencarnação. Apenas preste atenção na cor da luz no fim do túnel.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Ubik - Philip K. Dick


Um futuro dentre os vários possíveis. Um futuro em que você paga para a porta do apartamento abrir. Você paga para a geladeira abrir. Para a máquina passar um café. E algumas pessoas tem poderes paranormais.

Ubik foi eleito um dos 100 melhores romances em língua inglesa pela revista Time.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Fome - Knut Hamsun

Finalmente passei a limpo a "resenha" de Fome.
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Quanta fome. A desgraça em pessoa. Agravada pelo orgulho, que muito lentamente vai sendo quebrado, ao que parecem ser golpes de plumas.
A degradação humana além do limite. Para onde já não há volta possível. Ninguém emprega um mendigo maltrapilho. Será?
Há os momentos de pena. Não há como não se comover com alguém que tenta penhorar os botões do paletó para conseguir uns centavos para aplacar a fome.
Dormir ao relento. Passar fome. Não pagar a hospedagem. Passar fome. Tentar escrever um artigo que renda alguns trocados, mas ser impedido pela fome. Ter fome. Penhorar o nada que resta. Comer migalhas. Escrever um artigo. Sobrevida de uma semana. Vomitar o bife depois de quatro dias sem comer. Enlouquecer, aos poucos, de fome.
O texto não revela como a fome começa. Mas dá a entender que não foi sempre assim. E o personagem tentou e tenta empregos. Cada vez mais difícil. Cada vez pior.
A mente falha. Os nervos fraquejam. O corpo já não se sustenta. Por mais de uma vez ele tem certeza de que vai morrer. Não é a obstinação que o mantem vivo. É a providência (divina).
A história envolve, prende a atenção. Tem a capacidade de conseguir nos fazer sentir na pele (e no estômago), os percalços do personagem. É muito real. E realmente tem fragmentos da vida do autor. Foi escrito com base nas suas experiências. Somente tendo passado fome, muita fome, para escrever um texto como esse.