terça-feira, 24 de novembro de 2009

Fome - Knut Hamsun


"Fui-me embora. Um bônus, um bônus para mim também! Estava havia três longos dias e três longas noites sem comer. Um pão... Mas ninguém me ofereceu um bônus, e não tive coragem de reclamá-lo. Instanteneamente, isso despertaria desconfiança. Começariam a remexer em minhas coisas, descobririam quem eu era realmente; e me deteriam por falsa alegação. De cabeça erguida, com a atitude de um milionário, de mãos presas ao forro do paletó, retirei-me do Depósito." pág. 67

haja fome.

domingo, 22 de novembro de 2009

7ª Bienal do Mercosul


No último fim de semana de outubro fomos ver as exposições da 7ª Bienal do Mercosul. Pelo tempo que levei pra escrever este texto, vocês podem imaginar o impacto que ela me causou.
Não gostaria de ser grosseiro. Não gostaria de parecer um simplório iletrado “nos entendimentos das belas artes”. Mas, sinceramente, esta edição da Bienal está um lixo.
Eu gosto de arte contemporânea. Já vi muitas exposições. Sei que a função da arte é incomodar, comover, provocar reações,...
A única reação que tive foi de pena. Pena pelo dinheiro desperdiçado. Pena dos “artistas de plástico” que pensam que estão produzindo algo bom. Pena do público que se desloca até lá para ver aquilo.
Por mais que uma obra deva ser transgressora, inovadora ou “moderna”, ela deve ser bem executada. E é isso que não vejo nas obras da Bienal.
Desleixo. Falta de técnica. Pressa em terminar. (A falta de técnica me parece ser o que mais salta aos olhos).
Em algumas obras percebe-se o que parece ser um deslumbramento do artista com as possibilidades do computador e da internet. Mas com as possibilidades mais básicas, que qualquer criança que tenha acesso a estas tecnologias já superou.
Um avatar do Second Life (?) voando – “Que bela obra”. Second Life já era. Ultrapassado. Banal.
Podem dizer que há um significado por trás daquilo (para mim, o que há por trás dessas obras é um grande QI - quem indica). Há a intenção do artista. Mas quando falta técnica, a intenção muitas vezes, não passa de intenção. E se a obra precisa de um mediador para ser entendida, ele deveria estar grudado nela para todo o sempre amém. (Uma obra de arte não precisa de mediador).
Pior são os mediadores. No Santander Cultural, onde está a mostra "projetáveis" (de toda arte em vídeo que já vi até hoje, essa foi a pior coleção), escuto uma pérola da falta de sensibilidade. Mediadora explicando uma obra para um grupo de crianças que aparentava ter entre 7 e 8 anos. Todos de aparência muito humilde:
- Onde vocês encontram essas músicas? (A obra eram várias camadas sobrepostas de um player digital executando uma música. A música era executada com alguns segundos de atraso em cada player e a sobreposição fazia parecer que todos corriam juntos).
As crianças olham-se em silêncio. Nenhuma resposta. A mediadora insiste. A palavra pretendida é “internet. Mas o silêncio continua. A condição daquelas crianças denuncia, ou melhor, escancara, que internet não é seu cotidiano. De repente, um menino timidamente arrisca um “you tube”?

Mas, realmente, como alguém, hoje em dia, não sabe que músicas em mp3 vem da internet?

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Fragmentos rodrigueanos


Mais uma vez vou escrever sobre uma peça de teatro que assisti já há algum tempo. Bom, quem sabe serve de referência para alguém que ainda vá assistí-la ou como troca de experiências com outros que também assistiram.

Uma coletânea de esquetes baseada nos textos da série "A vida coo ela é", de Nelson Rodrigues.
Todos ótimos. E muitos deles engraçados. Sim, engraçados. A adaptação dos textos fez um excelente trabalho transformando a ironia e o sarcasmo em humor (sob medida para os palcos). Um humor refinado, cruel. Mas um humor necessário.
Acho que seria difícil pessara pelos 75 minutos de encenação se todos os textos tivessem o peso original de um Nelson Rodrigues. Mas este peso está lá. E o humor só faz aumentá-lo. Todos riem à vontade. E de repente, nos dois últimos esquetes, a paulada. No último ato, ele vem tão forte que o público silencia. Prepare-se para o último riso. Mas de trás da cortina vem o chute na boca do estômago.

sábado, 14 de novembro de 2009

Não pode


Estamos vivendo a época do não pode: não pode camas de bronzeamento, não pode beber, não pode fumar, não pode publicidade, não pode Aquarius fresh, não pode H2O, não pode hamburger, não pode, não pode, não pode...
Muitas dessas proibições tem vindo da Anvisa. Cuidado, esse ministro da saúde é muito pior que o Chavez (o da Venezuela, não o da TV - apesar de serem tão atrapalhados quanto). Um ditador nato.
Mas não é só ele. Olhem o número de projetos na câmara, no senado, nas assembléias legislativas e nas câmaras municipais, cujo objetivo único é proibir.
O que está por trás disso é grave: é uma profunda necessidade paternalista de saber e poder escolher o que é melhor para os outros. Mas já não são só conselhos, são ordens. Não pode e pronto.
Já não nos dão o direito de escolha. Já não nos dão o direito a dúvida. Políticos beirando o analfabetismo (mas não a canhalhice), lêem qualquer estudo divulgado por aí e saem criando leis. Leis que não reseitam a diversidade opinião.
As leis deveriam ser criada apenas para regular o bom convívio das pessoas. Mas ultimamente elas estão sendo feitas para dizer o que podemos ou não fazer.
Eu não fumo. Não gosto de cigarros, mas acho absurdo não poder existir nos restaurantes uma área para fumantes. Só entra nessa área quem quiser. Ah, mas temos que proteger os garçons. Mas para isso existem outras possibilidades.
E há os absurdos: o governo, de um lado (por um ministério), faz campanha para aumentar o consumo de vinho produzido no Brasil. Por outro lado (outro ministério), só não proíbe a venda de bebidas alcoólicas (instituição da lei seca) porque a pressão é muito grande. Gastam dinheiro com campanhas e incentivos de um lado, gastam mais dinheiro com campanhas e fiscalizações do outro. Um ato anula o outro.

domingo, 8 de novembro de 2009

Coraline - O filme


Desde que soube que Coraline, de Neil Gaiman, seria adaptado para o cinema, fiquei curiosíssimo para ver o resultado. Pois bem, aí está.
Coraline, o filme de animação, chama atenção pela beleza dos traços do desenho. E pela qualidade e técnica da animação. Nada super power mega inovador. Mas bonito.
Quanto ao enredo, funciona. Mas como quase sempre acontece, quem leu o livro vai ficar um pouco decepcionado. A história está toda ali. Mas falta. Falta aprofundar alguns pontos. Explorar melhor algumas situações e personagens. Quem sabe, até explicar um pouco mais algumas coisas (para isso preciso da opinião de alguém que não leu o livro: a história é todos os personagens estão compreensíveis e se justificam?)
Outra coisa que chama minha atenção nessas adaptações, é a necessidade do roteirista em acrescentar algo ou alguém na história. Se o original é bom, por que fazer isso? É uma incapacidade de admitir que o original está completo?
Para quem já assistiu (spoiler):
o menino não existe no livro. Claro que não atrapalha. Mas também não soma. Talvez até tire um pouco do sentido das aventuras de Coraline.

Em mim ficou essa pergunta que não cala: se não consegue dar conta de colocar no filme toda história que está no livro, por que acrescentar elementos novos que roubam ainda mais tempo? E isto não é só para este caso. Acontece em quase todas as adaptações.
Sim, eu sei: são adaptações. Mas... mas... Para o não leitor, não faz diferença (ou faz, por estar comprando gato por lebre?). Já para o leitor (e desconfio que estes filmes sejam feitos especialmente para os fãs do escritor), fica a incompreensão.

Fome - Knut Hamsun


"O sopro ligeiro do primeiro frio perpassou sobre as plantas, e cada uma delas guardou um sinal diferente. Talos de ervas, desbotados, eriçam-se contra o sol; folhas ressecadas rolam por terra com o chiado de uma procissão de bichos-da-seda. É a razão outonal, em meio ao carnaval da efêmera duração. Inflama-se o rubor das rosas, a tez de sangue vivo das flores adquire maravilhosa cintilação de tpisica." pág. 31

sábado, 7 de novembro de 2009

Ainda sobre Indignação - Philip Roth


Marcus Messner está indignado pela vida que não teve. Pelas experiências que lhe foram negadas. Por ter que lutar numa guerra que não é sua, num lugar distante. Contra ideais com os quais concorda. E a favor dos que discorda.

Li em algum lugar que Indignação seria uma espécie de "Memórias Póstumas de Brás Cubas". Mas não. Marcus ainda não está morto. Apesar de o recurso narrativo também ser interessante, é diferente. E seria incoerente com a vida de Marcus relatar qualquer coisa depois da morte. Ele é ateu. Um judeu ateu.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Livro diurno


Preciso de um livro diurno. Um livro solar.
Quem sabe uma paisagem nordestina?
Há pouco tempo atrás, li um que se passa numa madrugada de Tóquio. (E pouco depois, outro que se passa na escura alma de um jovem ameaçado pela guerra.)
Depois dessa escuridão noturna, preciso de sol. Luzes artificiais já não me bastam.
Neons e leds coloridos não abrem brechas no céu escuro das almas.

(Engraçado, mais uma vez leio outro carregado de sombras).

domingo, 1 de novembro de 2009

Feira do livro de Porto Alegre - 1


das aquisições:
- Um retrato do artista quando jovem - James Joyce - Alfaguara - R$ 10,00
- A estrada - Cormac McCarthy - Alfaguara - R$ 10,00
- Um, nenhum e cem mil - Luigi Pirandello - Cosac & Naify - R$ 15,00
- Mandrake - A Bíblia e a bengala - Rubem Fonseca - Companhia das Letras - R$ 5,00

Que barbada! R$ 40,00 no total. Ainda mais considerando as editoras.
Algumas caixas de saldos estão interessantíssimas. Ainda mais quando temos um amigo que já andou por lá e sabe exatamente aonde ir.