quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Após o anoitecer - Haruki Murakami

"A generosa luminosidade da manhã vai lavando todos os cantos do mundo, sem cobrar nada. Duas jovens irmãs estão juntas, deitadas numa cama pequena, domirndo serenamente. Exceto nós, ninguém mais sabe disso." pág. 200


Um bom livro.
Ótimo no começo. Uma ideia ótima. Uma narrativa que se passa em uma única noite. Cada capítulo com um relógio indicando as horas da madrugada.
Várias histórias que, de alguma forma, se entrelaçam sem que os envolvidos sequer saibam do entrelaçamento.
Duas irmãs. Duas irmãs na escuridão. Separadas por nada, mas com um abismo entre elas. Duas irmãs, como duas partículas que precisam se encontrar pra gerar luz.
Uma histórinha de amor. Quase imperceptível, porque deve ser à moda do Japão.
Sim. É uma história japonesa. Uma história de Tóquio. Anos-luz a nossa frente, mas nossa contemporânea. Acontece hoje, mas poderia ser no futuro. Para mim Tóquio é simplesmente um futuro de ficção científica.
Adoro histórias contadas por escritores de outros países. A cultura, os costumes do país escapam nas entrelinhas (e as vezes nas próprias linhas).
É uma história de solidão. Por isso uma história noturna. Várias solidões perambulando pela madrugada.
Máfia chinesa (no Japão). Prostituição. Jazz. Cultura pop (até que nem tanto). Sonhos. Segredos. E o livro me dá certeza de uma desconfiança: os japoneses são reservados.
Destaque especial para a trilha sonora. Sim, um livro com trilha sonora. Muito jazz e algumas otras cositas. Para ambientar-me, saí a cata das músicas citadas, e elas ajudaram muito na composição da atmosfera dos ambientes pelos quais a personagem principal passa.
Uma história de introspecção. Tamanha que nós leitores mal vislumbramos um pouco abaixo da superfície.
E o que rebaixa o ótimo do início para "um bom livro"? Tudo corre bem até 3/4 do livro. E de repente nos damos conta de que alguma coisa falta. Há um desfecho. Mas como acontece em outros livros que li recentemente, ele vem muito rápido. Muito... (ia dizer superficial, mas o livro não é raso - apenas nos dá a opção de não mergulhar). Muito... exatemente isso. Muito de me deixar sem uma palavra que o defina. Um vazio. Dentro das classificações literárias diria que se trata de um romance que transveste-se de conto.

Após o anoitecer, poderia ser classificado com um livro que expressa o mal estar da pós-modernidade. Da massa e da individualidade. De perder-se no meio do todo. De ser alguém, mas não ser ninguém. De ser engolido pela metrópole. De ser um rosto perdido na multidão, mesmo na madrugada. De ser um homem sem rosto.

Ainda agora eu descubro nuances perdidas na história. Mensagens cifradas. Senhas escondidas. Brinquedos de montar espalhados pelo cenário.

Ainda agora eu penso em dizer que o livro é ótimo. E que este ótimo está escondido no pós. Não no durante.

Aqui, uma resenha muito mais complexa que a minha. Vale a pena.

Alfaguara (selo da editora Objetiva) - 208 págs. - R$ 39,90 (mas se encontra por bem menos na internet)

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