"- Fico pensando... Será que as lembranças não seriam o combustível de que os homens precisam para viver? Se essas lembranças são ou não realmente importantes para a manutenção da vida, não vem ao caso. Elas podem ser apenas um combustível. Seja uma propaganda de jornal, um livro filosófico, uma foto pornográfica ou um maço de notas de dez mil ienes, tudo isso não passa de papel na hora de queimar, não é mesmo? O fogo não queima tudo questionando 'Nossa! Isto é Kant' ou 'Isto é a edição vespertina do Yomiuri' ou 'Puxa! Que peitos!', concorda? Para o fogo, tudo não passa de papel. É a mesma coisa com a memória. As lembranças importantes, as mais ou menos importantes, ou até as que não têm importância nenhuma, tudo, indiscriminadamente, é apenas matéria de combustão." pág. 173
e/ou
"Dinheiro
(Arnaldo Antunes)
Dinheiro é um pedaço de papel
O céu é um
O céu na foto é um pedaço de papel,
Pega fogo fácil
Depois de queimar dinheiro vai pro céu
Como fumaça
Também é fácil rasgar
Como as cartas e fotografias
Aí não se usa mais
Porque dinheiro é um pedaço de papel
Um pedaço de papel é um dinheiro
Dinheiro é um pedaço de papel
Pode até remendar com durex
Mas não é todo mundo que aceita
O que não se quer melhor não comprar
O que não se quer mais
Melhor jogar fora do que guardar em casa
Dinheiro tem valor quando se gasta
Um pedaço de papel é um pedaço de papel
Dinheiro não se leva para o céu"
né não? Também acho. Especialmente com relação ao dinheiro. Apenas uma convenção. Um pedaço de papel como qualquer outro se não fosse a nossa imaginação.
E com relação às lembranças... não havia pensando dessa forma ainda, mas Murakami tem lá seu bocado de razão. Combustível, fôlego, oxigênio, biblioteca... sim. Algo necessário ao presentefuturo.
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