domingo, 28 de fevereiro de 2010

Televisão

A cobertura do terremoto no Chile feita pela GloboNews é de doer.
As perguntas e comentários dos apresentadores dos telejornais são um desafio à inteligência. Qualquer ser minimamente pensante conseguiria articular alguma coisa melhor. Uma infinita repetição de colocações óbvias e rasas. Para saber o óbvio eu não preciso assistir televisão.
Tratar o telespectador da TV aberta como Hommer Simpson é admissível (e acho que necessário), mas na TV a cabo espera-se informações mais aprofundadas. O que salva a transmissão, são os convidados (quando as perguntas do apresentador não são cretinas demais).

E eu não preciso que alguém me diga que um terremoto no Pacífico não causa tsunamis no Atlântico. Geografia elementar. Será que o apresentador já viu um mapa mundi?
E eu também não preciso de um apresentador mais apavorado do que as próprias pessoas que estão no Chile. Interessante era ver ele tentando induzir uma repórter brasileira que está no Chile a sair do apartamento - que apresentava rachaduras - quando os engenheiros que vistoriaram o local garantiam que não havia perigo.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Nome próprio

ver o sol nascer quadrado é uma possibilidade de qualquer janela.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Vale uma leitura

Uma historinha comovente (ao menos para mim). A matéria é de abil de 2009, da revista Nova Escola, mas de forma alguma está ultrapassada.

Vale mais que um trocado

Ambulantes, pedintes e moradores de rua não esperam só por dinheiro dos motoristas parados no sinal vermelho. Sem pagar pra ver, eu vi
"'Dinheiro eu não tenho, mas estou aqui com uma caixa cheia de livros. Quer um?' Repeti essa oferta a pedintes, artistas circenses e vendedores ambulantes, pessoas de todas as idades que fazem dos congestionamentos da cidade de São Paulo o cenário de seu ganha-pão. A ideia surgiu de uma combinação com os colegas de NOVA ESCOLA: em vez de dinheiro, eu ofereceria um livro a quem me abordasse - e conferiria as reações.
Para começar, acomodei 45 obras variadas - do clássico Auto da Barca do Inferno, escrito por Gil Vicente, ao infantil divertidíssimo Divina Albertina, da contemporânea Christine Davenier - em uma caixa de papelão no banco do carona de meu Palio preto. Tudo pronto, hora de rodar. Em 13 oferecimentos, nenhuma recusa. E houve gente que pediu mais."

Leia o restante aqui.


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Efeméride ...

"Que outros se gabem das páginas que escreveram; eu me orgulho das que li."
Jorge Luis Borges - Escritor argentino (1899 - 1986)

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Efeméride ...

"Você precisa de uma palavra, daquela que vai dizer aquilo tudo que você está sentindo, e você não a encontra. Passa horas e horas torturado com isso. E, aí, ela vem, vem a frase, depois o bloco de texto todo."
Antônio Torres - Escritor brasileiro

Eu já tenho a impressão de que palavra nenhuma consiga dizer tudo aquilo que sinto. Por mais que eu procure, nunca vou encontrar. Palavras são limitas por sua natureza. São apenas representação.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Asas do Desejo - Win Wenders

Sim, eu não me canso. Vale a pena assistir. Os diálogos são memoráveis.

É fabuloso viver só em espírito,
dia a dia, eternamente...
testemunhar o que é espiritual nas pessoas.
Mas às vezes fico farto
com a minha existência espiritual...
Gostaria de deixar de flutuar
eternamente nas alturas.
Gostaria de sentir meu peso...
acabar com a ausência de
fronteiras e me unir à Terra.
Gostaria de a cada passo,
a cada lufada de vento...
ser capaz de dizer:
"Agora, agora e agora."
Não mais:
"Para sempre" e "Pela eternidade".
Sentar no lugar vago da mesa de cartas,
ser cumprimentado...
mesmo que por um
pequeno gesto de cabeça.
Sempre que participamos de algo,
foi fingindo.
Fingimos que numa luta,
deslocamos o quadril...
fingimos pescar um peixe.
Fingimos sentar à mesa,
beber e comer.
Cordeiros tostados e vinho servidos
nas tendas do deserto...
apenas um fingimento.
Não quero gerar uma criança
ou plantar uma árvore...
mas seria bom, chegar em
casa depois de um longo dia...
e alimentar o gato,
como faz Philip Marlowe...
ter uma febre, melar os dedos
de preto com o jornal.
Se entusiasmar não só com coisas
espirituais, mas com uma refeição,
com o contorno de um
pescoço, com uma orelha.
Mentir.
Sentir o sorriso de alguém.
Ao andar, sentir os ossos
se movimentando.
Por fim "achar"
ao invés de "saber".
Poder dizer:
"Ah" e "Oh" e "Ei"...
ao invés de: "Sim" e "amém."
- Sim.
Poder, pelo menos uma vez,
se entusiasmar com o mal.
Atrair para si os demônios
dos transeuntes...
e caçá-los no mundo.
Ser selvagem.
Ou por fim sentir como seria tirar
os sapatos debaixo da mesa...
e, descalço, mover os dedos assim...
Ficar sozinho.
Deixar as coisas acontecerem.
Ser sério.
Só podemos ser selvagens
na medida em que formos sérios.
Não fazer nada além de olhar.
Reunir, testemunhar, dar fé, proteger...
Permanecer sendo espírito.
Manter-se à distância. Ficar na palavra.

Asas do Desejo - Win Wenders

Poderia ser um filme de vertigem. Mas não. É um filme de humanidades.
A emoção é muito mais forte no início. Uma história ao contrário? Não. Mas comove muito mais enquanto ele, o anjo, não é. Na sua vontade de ser.
A eternidade não é suficiente. É preciso sentir. O vento. O contato dos pés com o solo. O peso.
O filme faz você lembrar os prazeres de ser humano. Os pequenos prazeres (que Amelie Poulain tanto apreciava). As minúsculas coisas para as quais já nem damos atenção. As minúsculas coisas que nos fazem vivos.
Asas do Desejo é um voo ao contrário. Um vislumbre de uma possível solidão eterna. Uma visão humana disfarçada de angelical sobre a beleza de viver.
Para quem não sente, até as desgraçadas podem ser melhores que o vazio. Escutar tudo e não sentir.
Não sentir. Não sentir. Não sentir. É isso. A falta que faz o sentir. Ser humano é isso. E morrer (especialmente em vida) é tornar-se insensível.
E a cor? E a cor? Aí, a cor... O melhor recurso que o diretor poderia encontrar.

Asas do Desejo - Win Wenders

Quando a criança era criança,
era o tempo destas perguntas:
Porque eu sou eu, e não você?
Porque estou aqui, e não ali?
Quando o tempo começou,
e onde o espaço termina?
Não seria a vida sob o sol
apenas um sonho?
Não seria o que vejo, escuto e cheiro apenas uma
visão do mundo antes do mundo?
O diabo realmente existe e pessoas
que são realmente más?
Como pode ser que eu, que sou eu,
antes de chegar a sê-lo, não fosse?
e que eu, sendo quem sou,
algum dia não serei eu mesmo?

Asas do Desejo - Win Wenders

“Quando a criança era criança, andava
com os braços balançando.
Queria que o córrego fosse um rio,
o rio uma torrente...
e que esta poça fosse o mar.
Quando a criança era criança, não
sabia que era uma criança.
Tudo era cheio de vida,
e a vida era única.
Quando a criança era criança,
não tinha opinião sobre nada.
Não tinha hábitos.
Sempre sentava com as pernas cruzadas,
Saía correndo...
os cabelos eram desarrumados,
e não fazia pose...
quando fotografada.”